Tínhamos trem à uma e meia da tarde e não sabíamos como seria o tempo de embarque, então foi dia de acordar cedo (quem foi o gênio que resolveu fazer uma viagem correria estando com as costas fudidas?). Fomos na estação de trem (com umas estátuas gigantes segurando lâmpadas, Tolkien total), conferimos tudo, deixamos as mochilas num armário no porão, e saímos pra passear um pouco nos arredores. Fomos no museu nacional de arte, que é quase em frente da estação. Caríssima, a entrada. Muito limpo e organizado, mas nada demais como coleção de arte; principalmente arte finlandesa mesmo e um ou dois impressionistas. Mari gostou menos que Thuin, mas é porque boa parte da arte finlandesa, o estilo romântico nacionalista da virada do século XIX pro XX, é basicamente o que serviu de inspiração pro Tolkien... Uma instalação em homenagem a Sibelius (o compositor), que “reproduzia” virtualmente um monumento em homenagem a ele, situado alhures na Finlândia, que se parece com um diapasão gigante, era bem interessante. A reprodução era feita com círculos de luz projetados no chão, e à medida que você se deslocava pelos círculos, o som equivalente aos tubos específicos tocava. Na lojinha do Museu, uma pá de jogos e produtos baseados na arte, que juro que se não tivesse 10.000km de mochilagem pra encarar teríamos comprado tuda. Saindo do Museu, ainda com alguns minutos, passamos na Stockmann, a

loja de departamentos mais tradicional do país, que tem inclusive filiais na Rússia, lindíssima por fora mas por dentro com aquela cara padrão de loja de departamento; na rua de pedestres em frente à Stockmann havia uma mendiga numa posição insólita: ajoelhada, em pose de súplica, sem falar um ai; virando a esquina, vimos outros. Pelo visto é a posição de mendigo na Finlândia, vimos outros dobrando a esquina. Dentro da loja, Mari se apaixonou por uma bota, mas achamos muito cara e deixamos pra lá - e o tempo já era pouco. Corremos pra estação (a Stockmann fica a poucas quadras da estação; Helsinki é numa escala toda outra comparada a SP), retiramos nossas mochilas do armário subterrâneo, e entramos no trem Allegro.
Ao lado da gente, um trem doméstico de dois andares. O Allegro tem aquela cara bem de trem bala, todo cinza e aerodinâmico por dentro como por fora. Como se as cadeiras também precisassem cortar o vento. No trem, comemos almôndegas finlandesas e creme de cogumelo, surpreendentemente bons e, nem um pouco surpreendentemente, caros. O trem sai da estação, corta uns parques urbanos e fábricas, uns subúrbios, e depois,

principalmente, por plantações de pinheiros. Nos trechos naturais entre as plantações de pinheiro, só bétulas saindo de uma mistura de riachos e pântanos. O trem corta pelas estações a 200 por hora sem nenhuma barreira. Uma hora e meia depois da partida, chegaram os guardas finlandeses pra bater nosso carimbo de saída (Mari teve de ser acordada) e, logo depois, os russos pra bater o de entrada (tivemos que explicar que brasileiro não precisava de visto pra Rússia). Descobrimos que o carimbo tem um iconezinho do modo de transporte usado. Pouco depois a alfândega russa chegou, olhou pras nossas mochilas, pegou os formulários, olhou nossa cara de mochileiro otário, e nem abriu as mochilas. Pouco depois da fronteira, parada em Vyborg - Mari teve que ser acordada de novo pra ver o castelo, que é realmente muito bonito. Depois de Vyborg, aos poucos fomos entrando no cinturão industrial de S. Petersburgo, bem maior e mais sujo que o de Helsinki. Breves visões do mar. Já entrados na cidade mesmo, o trem perde

velocidade, segue a uns 80 por hora. Chegamos na estação Finlândia, que nem o Lênin!
São Petersburgo
2º
Altitude 13m
A estação está um pouco velhusca, e pelosvisto só o bala pra Helsinki ainda existe de trem de longa distância, o resto é só suburbano, no máximo "exurbano," coisa de 2, 3 horas; o resto foi transferido para a estação Ladoga, por onde também passa o trem noturno Helsinki-SPb-Moscou. Conferimos uma máquina de vender bilhetes, linda, dá pra comprar qualquer passagem na Rússia, em inglês também. Compramos logo o trem SPB-Moscou. Pegamos o metrô defronte à estação, até o Almirantado. A escada rolante da estação Almirantado tem mais de 70 metros. Dá pra cochilar na escada, que tem um “motorneiro” na base, com umas quinze câmeras. No topo, outra cabine de motorneiro, mas vazia; deve ter sido desativada com as câmeras. Ah sim, a passagem de metrô em SPB é de exatos dez rublos. Uns 40 centavos de real. E usa fichas de antigamente pras passagens individuais! SPB, andando pela rua, é linda, uma Paris mais dramática e com mais canais. Demoramos pra achar o albergue, que é no sótão de um prédio haussmaniano. Mas chegando lá descobrimos que nosso quarto tem vista pro Hermitage. Comemos sobras do piquenique e Kvass (tipo uma pré-cerveja; pão preto com açúcar mascavo só um pouquinho fermentado) comprado na geladeira; industrial, mas uma delícia. Aliás a geladeira em questão não gela nada, é só um armário pras bebidas. E tem que ser liberada por um botão de controle remoto; como não fica ligada normalmente, a moça do albergue tem que correr, pôr na tomada, e apertar o botão quando alguém compra alguma bebida. Com toda a nóia que o guia nos deu em relação à água de SPB, escovamos os dentes com água mineral. Os chuveiros são uma espécie de cabine compacta, delícia, viram sauna. Thuin gastou metade da água do lago Ladoga no banho.
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