Último dia em Piter. Fomos enfim para a ala nova do Hermitage, à busca dos artistas modernos e pós-impressionistas. O prédio, recém-inaugurado e tinindo de novo, é na mesma escala do resto do museu, aqui conseguida (porque os prédios originais eram prédios de escritório do estado-maior das forças armadas) transformando os pátios internos em salões - como o prédio tem seis andares, e não é de pé direito baixo, são salões de seis andares de altura até o teto. As intervenções modernas da reforma são em concreto bruto e vidro; o contraste com a arquitetura neoclássica é interessante; a entrada para a chapelaria lembra até uma estação do metrô de São Paulo, com os grandes blocões de concreto nu. Como é menorzinho que o corpo principal, na chapelaria só cabem 4000 cabides e 1000 prateleiras. Não teve muita coisa da coleção ainda que tenha feito a transição, então a maior parte dessa imensidão está fechada. Mas tinha uma pegadinha: você ia de placa em placa com os dizeres "cadê Matisse," "cadê Matisse." Ao final de um labirinto ("não tinha muita coisa" em escala russa), você chega num salão com umas molduras pretas, algumas com o centro coberto por um pano, e uns balões de história em quadrinho: aqui o Matisse, aqui o Van Gogh, aqui o Malevich. Har har, engraçadíssimo, você pensa. E vai se virando pra ir embora... só que tem mais uma plaquinha, que você não viu quando entrou. "Por aqui o Matisse." Subindo a escada, virando à esquerda, você acha o Matisse. Cinco salões de Matisse. Matisse até o cu fazer bico. Incluindo a Dança, claro.
Também muitos ícones, quadros com mais crítica social e uma pegada visual entre o realismo e o impressionismo, como os do Repin e outros "vagabundos," e quadros mais recentes, supremacistas,
realistas soviéticos, tapeçarias, porcelanas soviéticas, porcelanas soviéticas supremacistas e realistas socialistas... na seção etnográfica, todos os povos do antigo império, divididos em duas alas: eslavos (mais os bálticos de lambuja) e não-eslavos. Só deu pra ver direito a ala dos não eslavos (que significa tudo de esquimó a manchu, de mongol a caucasiano, de finlandês a judeu, no pedacinho do mundo que já foi governado desde Moscou ou São Petersburgo), porque ainda estávamos, na real, no meio dela quando o alto-falante soou "meia hora até o fechamento." Inda deu pra ver, enquanto éramos expulsos, que tinha uma livraria da hora.
MÈZANFÃ, tudo que é bom acaba e, depois de mais uma passadinha rápida na Dom Knigi e de um pulo na catedral de Nossa Senhora de Kazan ("uma imitação feia, em menor escala, de São Pedro de Roma"), voltamos para o albergue para empacotar nossas coisas. Demos tchau pra faztudente do albergue que era os corno da Natalie Portman, bebemos um último kvass, e pegamos um táxi rumo à estação Moscou. Na estação Moscou, batendo o medinho de perder o trem (afinal, seria a primeira vez que pegaríamos um trem na Rússia, e não era mais como na Finlândia em que todo mundo era hiperpolido e falava inglês), ficou Mari na cadeira com as malas enquanto Thuin procurava algo pra comer, remédio, e informação pra garantir nosso trem (aparecia um que tinha o número certo no painel, mas será que era ele mesmo?! - música de teremim). A paranóia, claro, era injustificada, o trem era aquele mesmo, e luxuosíssimo, assim que entramos a moça foi perguntar qual a janta que queríamos, a janta também era uma delícia, tinha chuveiro, enfim, toda a paranóia pra nada. Mas no saguão de espera teve um bêbado querendo arrumar encrenca com um imigrante caucasiano e depois com a polícia. E, já no trem, descobrimos que alguém com problema no pescoço não pode dormir num trem de lado, só de costas, sob pena de acordar urrando de dor no dia seguinte. mas isso é do dia seguinte, e já de Moscou... as últimas cenas que vimos de Piter foram bem distantes da cidade imperial, do sonho barroco e haussmaniano. Subúrbios proletários e industriais como os de qualquer cidade grande contemporânea; talvez com mais árvores (peladas como estavam) do que a maioria. 


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