Saturday, March 26, 2016

26.3.2015 Krasnoyarsk. Temperatura -4 a 6C. Altitude 140m


Nilo na Sibéria
Já disse que o hotel de Krasnoyarsk era muito, muito feio, né. OK, não vou dizer de novo. Mas a praça em frente até era jeitosinha, fora estar em obras. É que assim como Kazan havia recebido a Universíade de verão em 2013, Krasnoyarsk estava se preparando para receber a de inverno em 2019. Tomamos o farto café da manhã do hotel (com muitas geléias e méis e blinis e... momento Thuin dando gritinhos) e fomos para o museu regional, depois de passear um pouco pela cidade. O museu (que fica quase ao lado do hotel) é... bem.... é um templo egípcio. Um templo egípcio no meio da Sibéria, olhando para o Ienissei ao invés de para o Nilo. (Admita-se, como vista o Ienissei, que em K. tem mais de uma milha de largura, é bem mais amplo do que o Nilo.)  Dentro dessa visão surrealista, o museu integra num só lugar museu de arte, de antropologia, de história natural, de história... o que vier, relacionado à região (o krai de Krasnoyarsk não é lá muito menor que a Argentina), é lucro. No subsolo do museu, uma exposição sobre o povoamento da região, desde os hominídeos até as culturas turco-mongóis e aos russos. Bastante nova e bem montada, com direito a truques de luz para fazer os bonecos que trajavam as vestimentas rituais xamânicas parecerem vivos, reconstrução de interiores de casas e tendas de diversas culturas, e um mapa de luzes pelo qual se podia olhar para todos esses aspectos.  No 1o piso, a exposição era maior mas mais velha: um imenso saguão dividido numa nave de pé direito triplo e alas laterais, com uma réplica em tamanho navio cossaco no meio da nave, cheio de bonecos de cossacos dentro. Proibido para crianças um pouco maiores como nós, mas liberado para as crianças pequenas correrem pra cima e pra baixo, com uma escada para se chegar no navio. Hmph. Nas alas laterais, a parte de história natural, com muitos fósseis e bichos empalhados, e a recriação de interiores de casas populares do período czarista. No segundo andar, além da varanda olhando pro navio cossaco, exposições sobre tecnologia (inclusive a réplica de um satélite montado ali mesmo), uma exposição temporária sobre a 2a Grande Guerra, e a reprodução do saguão de uma mansarda nobre ,especificamente da que pertencia a um dos dezembristas exilados depois de tentar derrubar o czar; esta se confundia com uma exposição sobre a evolução dos sistemas de ensino, desde os professores privados do começo da idade moderna até a escola de hoje em dia.
A MOTHERFUCKING COSSACK CORSAIR FUCKING SHIP

Saindo do museu, pegamos (na praça em frente ao hotel, de novo) um ônibus para as bordas da cidade, atravessando uma ponte sobre o Ienissei, e através duma ilha-parque que fica no meio do rio. Nosso objetivo eram os stolby, descritos no guia como formações rochosas únicas irrompendo da terra. Depois da ponte, passamos por muitos edifícios modernistas-chumbregos (a forma urbana lembrava as asas de Brasília,  com prédios sobre pilotis no meio de quarteirões-parque), e muitas lojas de material de construção, até chegar no ponto final, que também era uma estação de esqui. A estação tinha cara chiquérrima, de Chamonix mesmo, e ficamos com medo de nosso almoço sair a preços suíços, mas o medo era infundado; na cafeteria com cara de nova-rica, não chegamos a pagar 20 reais pros dois, para almôndegas, peixe, papa de sarraceno, bolinhos, e um litro de cerveja. E fomos lá pegar o elevador de esqui (não sem alguma trepidação por parte de Mari). No elevador, descobrimos um pequeno detalhe: quando já está frio, ir pro meio do mato e subir uma centena de metros significa FICAR MUITO MAIS FRIO. De sentir as mãos congelando dentro das luvas grossas de termofleece, e não conseguir usar a câmera direito, durante a ascensão. Lá em cima, saímos correndo rumo ao pequeno café, ou tão "correndo" quanto dá pra se deslocar em cima de sei lá quantas dezenas de centímetros de neve fofa, para buscar o Santo Graal do tchai. Dva tchai. Mais dva tchai por favor. E os adolescentes em volta pulando da cadeirinha direto pra pista praticamente. Momento gringo camarão em Ipanema total. Depois de descongelados, fomos olhar os tais stolby. E bem... não é que não fossem legais e tudo mais, umas pedras grandes supergenteboa saindo da floresta, mas... bem, pra quem cresceu com o Pão de Açúcar e o Corcovado, pedras que só se vê de perto ou de binóculo foram meio anticlimáticas.
Um stolby. Sim, é só isso.

Na volta, procurando o ponto de ônibus para voltar, nos deparamos com o teleférico pré-universíade, que era um tico mais modesto que o pós-. Um tico as in um predinho de um andar de azulejo branco, com umas cadeirinhas de prástico estilo parque de diversões de interior ao invés do predião de aço e vidro com cadeira quíntupla de aço e materiais compostos. No ônibus da volta, um mendigo trêbado se juntou aos passageiros, e ele fedia muito. Mas muito. A trocadora, assim que entrou (lembrando: o ônibus não tem catraca, e o trocador passeia pelo interior) o fuzilou com os olhos e foi correndo perguntar se tinha dinheiro pra passagem. Tinha. Todo mundo enfiando a cara na roupa, abrindo as janelas apesar de estar nevando um pouco. O pobre coitado nada de sair. Finalmente, quando cruzávamos de novo a ponte sobre o Ienissei, ele se levanta: ia sair no mesmo ponto que nós. E grazadeus pela falta de catraca...saiu ele por uma porta e uma cabeçada pela outra porta. Antes de voltar ao hotel, passamos na galeria do lado por curiosidade, e descobrimos uma espécie de baú do tesouro de cosméticos; Mari queria comprar tudo, de uma marca chamada Natura Sibirica, que era tipo uma Natura melhorada - só que por um preço absurdamente barato. Como ainda tínhamos um mês de viagem, ao invés disso compramos só dois cremes para Mari e três para dar de presente.
A vista da cadeirinha voltando

De volta ao hotel, de volta à banya com piscininha gelada, e saímos pela noite da cidade. Só que bem, a noite de uma cidade de interior no meio da semana. Acabamos indo parar num pub (sim, pub), que tinha uma decoração simpática à base de estantes (na nossa mesa dava pra ler Tolstói, a família Robinson, Dickens, e Chekhov) e um cardápio vegano engraçado, além das mesmas cervejas européias que você encontraria num pub de São Paulo. Mas ok. Tocava música indie.

150 rublos dá uns 8 reais

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