Friday, March 18, 2016

18.3.2015 Moscou 13 a -4 Celsius Altitude 156m













Primeiro dia saindo do centro, e das áreas mais comuns de turista visitar (bem, se não contar o próprio bairro Aeroport). Resolvemos visitar o Jardim Botânico da Academia Russa de Ciências em Moscou (tem cinco jardins botânicos em Moscou; esse, com 3,6km2, um pouco mais que o dobro do Ibirapuera, é o maior). Pra isso, fomos até a estação de metrô - tandamdamdam - Jardim Botânico. Saindo, tivemos um medinho de nos perdermos, porque reparamos que estávamos no subúrbio profundo, mas acabou sendo sussa entrar. Só entramos num cemitério que tem antes por 10 minutos, mas quem nunca entrou por engano num cemitério, né. O jardim botânico em si é bonito, provavelmente mais em outras épocas do ano do que no começo da primavera, em que lama suja e árvores peladas é só o que se vê. OK, mentira. Em Moscou, em que o clima é menos polar que em São Petersburgo, as faias já estavam dando fruto, e alguns arbustos também. E os pinheiros não ficam pelados. O jardim botânico, apesar de ter milhares de espécies de plantas (a URSS queria ser superpotência, afinal, e grandes museus e centros de pesquisa fazem parte disso), as tem principalmente concentradas nas estufas e museus, que não achamos. A maior parte do bosque por que passamos tinha as plantas da floresta temperada russa ou da taiga, ou seja, parecia meio monótono pra olhos acostumados com a mata atlântica. Muitas bétulas, faias, larissos, pinheiros, abetos, carvalhos, e plátanos. Muitos arbustos, alguns espinhentos de cores vivas. Não sabíamos, mas o bosque das bétulas, em particular, era um aviso do que ficaríamos uma semana direto vendo... o único problema do jardim botânico era a falta de sinalização. Não de sinalização em inglês para turistas, de toda e qualquer sinalização. Nos perdemos, evidentemente. Eventualmente chegamos a outra entrada do parque, do lado da qual tinha um mapa muito do básico. Graças a ele, demos uma olhada em trechos um pouco mais variados, e chegamos ao lado onde o jardim botânico termina, num grande lago. Do lado de lá, outro parque, também bastante grandinho, em que as formas sinuosas eram de romantismo inglês ao invés de seminaturais. Muitos patos andando no gelo ou nadando na parte já descongelada. (Fazia um calor extemporâneo em Moscou, quase 4 graus positivos.)  Depois de outra perdidinha básica na saída do parque Ostankino, acabamos indo parar, sem saber que o faríamos, primeiro num campo de macieiras (foi muito satisfatório conseguir perguntar pro jardineiro o que eram aquelas árvores, se eram macieiras, e entender a resposta), depois no VDNRRá. Com uma parada numa máquina de vender bebidas que, Allahuh Akbar, vendia também café quente. 

O VDNRrá, ou Kha, ou VDNR (a letra russa, pronunciada rá, é a letra com o som do r forte - tem uma separada pro ere de paulissta) , é uma imensa exposição universal permanente, construída nos tempos da URSS. Depois da queda, foi transformada em 25 de março, dizia-nos o guia, mas quando fomos já estava sendo retransformada, gentrificada, pra atender ao neoimperialismo do Putin. No pavilhão principal, uma imensa exposição sobre a olimpíada de Sochi - não pudemos entrar porque estávamos sem dinheiro, e não achamos um caixa eletrônico que fosse. Disse que estava sendo retransformada, não que já tinha sido... ao lado do pavilhão central, um Ben & Jerry's, e pra isso a fome fez com que gastássemos os últimos centavos. O sorvete B&J na Rússia é muito melhor do que o do resto do mundo, e eles têm um sabor de "tudo que tem no mato," com um monte de frutinhas e nozes diferentes no meio dum sorvete de creme. Logo em frente, um ônibus espacial e um foguete. Não réplicas, mas de verdade. Geekgasms múltiplos. Seguindo em frente pela esplanada, muitos pavilhões, todos daquele kitsch de exposição universal do começo do Século XX, com referências à arquitetura local de cada república, mas traduzidas pro concreto e em outra escala. Uma cabana de madeira gigante da Carélia, um coreto monstruoso da Armênia. Pensando melhor, lembra muito o Epcot Center, da Disney, e o fato de só ter os países da URSS enquanto a Disney tem do mundo inteiro não deixa de refletir a escala dos dois impérios. Como a conversão em Epcot ainda é parcial, já mandaram embora as barraquinhas de comida caseira, mas ainda não tem muita opção de comida industrial ou chique; apenas uma pequena praça de alimentação, num tablado de madeira, onde comemos uma comida beeem meia boca de franquia, pielmenye e algo que parecia muito um pastel de feira brasileiro, fora os temperos do recheio. 

No final do VDNRá, chega-se a uma estação de monotrilho, bonde, e ônibus (sim, ali é subúrbio profundo). Logo depois, ergue-se o foguete de titânio, com seu enorme rastro também de titânio, que marca o quase-subterrâneo museu dos cosmonautas. Fomos lá só pra olhar a entrada, já que dinheiro não tínhamos, mas - aleluia ermão ! - dentro do lobby do museu tinha um banco 24h.  Pagamos, deixamos os casacos no garderob, e entramos. O museu é tudo que um nerd poderia querer. Logo na entrada, os banheiros têm astronautinhas e robozinhos para indicar qual é de menina e qual de menino, e entre eles o corredor tem um enorme alto relevo com grandes nomes da humanidade relacionados ao espaço. Depois da entrada, uma sala relativamente pequena, com coisas de somenos importância como o Sputnik, a Belka e a Strelka (empalhadas), e roupas de cosmonautas, e uma galeriazinha com uns quadros meio kitsch. Pequeno mas foda. Ok, nos preparamos pra sair e... encontramos a passagem para uns saguões, inteiramente subterrâneos, imensos, com milhares de coisas. De réplicas minúsculas a réplicas em tamanho real, aos próprios artefatos da conquista do espaço, e não só russos (e, como ninguém é de ferro, a tocha olímpica de Sochi, com a desculpa de que ela havia estado por lá). Não resistimos a tocar com o dedinho as pedras lunares (ATENÇÃO PARA A CONFISSÃO ESPONTÂNEA). Tinha uma réplica da soyuz na qual se podia passear, maquetes de tudo quanto é base de lançamento de Baikonur ao Cabo Canaveral a Kourou (no mapa, puseram na localização errada Alcântara, mas OK). Enfim. O tipo de lugar em que você volta a ter 4 anos de idade. No café, vendiam comida de astronauta, em tubos, mas não compramos de otarice. 

Saindo do museu dos cosmonautas, já com fome, pegamos o metrô rumo ao parque Gorki e ao Garage. Na saída do metrô, encontramos a primeira estação de bicicletas públicas (bem hi-tech),
outra biblioteca enorme, uma praça em obras com uma imensa estátua do Lênin, e - slava bogu - um supermercado metido a besta que tinha uns sanduíches prontos, uns pirogi idem, e esquentava tudo no forninho. E tinha um moço na fila que soube explicar pra gente como chegar no parque. O Gorki tem uns portões monstruosos, bem além do comentário que já fizemos sobre grades de parque na Rússia serem uma obra de arte. Dignos de uma fortaleza ou palácio qualquer. Lá dentro, tudo em obras, seja pro Garage, seja pra chegada da primavera (muitas e muitas e muitas flores sob plástico ou agulhas de pinheiros). Mas o parque é aberto, e foi fácil chegar ao pavilhão temporário do Garage, lindo, todo de tubos de papelão. O pavilhão temporário não é muito grande, mas compensaram na qualidade, com uma retrospectiva de arte contemporânea política nos países eslavos, incluindo umas criticando beeeeem pesado sêo Putin. Como bom museu de arte contemporânea, ao invés das tiazinhas que guardam os salões dos museus mais tradicionais, tinha jovens com cara de modelo. E o preço também era bem contemporâneo... Mas mesmo assim paramos pra tomar um café antes de ir embora. 

Já maisoumenos alimentados e tendo encerrado o dia, fomos comprar a passagem pra Kazan numa das estações grandes, a Bielorrússia (Moscou tem nove.). Compramos, aproveitamos pra comprar óleo de lavanda (óleos essenciais, sendo coisa de tiazinha ao invés de hippie, são ridiculamente mais baratos do que no Brasil), e voltamos para nosso lindamente aquecido doce lar. 

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