Sunday, March 13, 2016

13/3/2015 0º Altitude 13m

Resolvemos ir à Catedral de São Isaque antes do Hermitage. Pelo caminho, paramos numa padaria afrancesada hipster, Buche, onde comemos um bom croissant e uma ótima torta de frutinhas. São Isaque é mais imponente do que bonita e mais luxuosa do que imponente, com o domo enorme sobre as colunas de malaquita. Ficamos caçando um pouco até achar o guichê em que se comprava bilhetes para entrar, meio - descobrimos - sem motivo, já que nem exigiram o bilhete… lá dentro, oro, muito oro. Malaquita, lápis lazuli, a pedra semipreciosa que se quisesse estava lá adornando as paredes ou mesmo sendo usada de estrutura. O altar-mor, imenso, é todo emoldurado em lápis lazuli. Colunas de vários metros de lápis lazuli. Roa-se de inveja Tutancâmon. E incenso, muito incenso; a catedral tinha mais crentes do que turistas, e pelosvisto uma quantidade nada insignificante de gente que era crente E turista. Por conta dessa quantidade, também tinha inúmeras barraquinhas de venda de badulaques religiosos. Íconeszinhos, capinhas de prata para ícones (como as coberturas de ícones de ouro e prata da própria catedral; dos ícones, alguns eram em estilo tradicional russo-bizantino, e outros pareciam mais quadros italianos ou franceses.) Numa capela lateral, havia uma missa em andamento, com os padres escondidos pela iconostase e todo mundo se cruzando e inclinando de 2 em 2 minutos; as portas se abriam para que víssemos os padres apenas de quando em vez.




Saindo de São Isaque, atravessamos os jardins do Almirantado, rumo ao Hermitage. A graça de ir na baixa estação é que não tinha fila nenhuma, compramos o bilhete na maquininha eletrônica no pátio (em obras) de acesso do Palácio de inverno, fomos na chapelaria (a pequena, com 1600 posições - a grande tem 6000), e começamos o longo processo de se perder no museu que “pode não ser o maior do mundo, mas o segundo não é.” Thuin, já tendo ido no único concorrente, o Louvre, acho que tava mais preparado que Mari pra canseira pela frente. E haja canseira, com destaque pra dois momentos: o primeiro, quando vimos que as criancinhas que mal andam, na Rússia, não recebem ajuda pra subir a escadaria monumental (carrinho de bebê nem pensar), e o segundo quando nos demos conta de que só tínhamos uma hora para chegar na visita guiada da sala do ouro - e uma hora foi o tempo justo de atravessar o museu correndo, sem nem se perder. O salão do ouro tem, entre jóias dos moguls e dos czares, obras dos citas e das colônias gregas do mar Negro que são das coisas mais lindas e intricadas que existem; um veado cita inclusive é o símbolo do museu. 

Tudo no Hermitage é desmesurado. O pé direito dos salões térreos é provavelmente alto o bastante pra chover lá dentro. Nas escadarias cabe sem apertar uma tropa de cavalaria. E aí por diante. Tem Van Dyck o suficiente dentro do Hermitage pra encher uns cinco museus, e concluir que o moço não dormiu um dia sequer na vida. Tem menos Rembrandt - só pra um museu. Mas entre os Rembrandts estava o Sacrifício de Abrãao, que é desses quadros que fazem uma pessoa normal chorar (no caso de Mari, literalmente). Um pavão dourado mecânico, completo com seu salão parecendo uma praça veneziana ou turca de mármore e ouro. Tem… ok, acho que já deu pra entender o espírito da coisa. Tem basicamente um apanhado geral da história da arte mundial, da pré-história ao começo do século XX. Os impressionistas e outros “modernos” estão sendo levados gradualmente para o prédio da expansão, nas instalações que antes pertenciam ao estado-maior das forças armadas, do outro lado da rua. (Algo como se, no Brasil, os milicos topassem se desfazer do Ministério da Guerra, na Presidente Vargas, para virar museu.) Por isso, só tinha um ou dois salões de Picasso, por exemplo.

Exaustos e famintos (porque o café do Hermitage é digno concorrente entre os piores cafés de museu que já vimos), agradecemos muito pelo albergue ser quase do lado e, vendo um restaurante de comida russa na esquina do albergue, resolvemos entrar pra ver qual era. Kitschíssimo, parecendo uma izbá de camponês (pena da faxineira, os móveis eram pesadíssimos) e com bruxas em móbiles pelo saguão. Mas a comida não era nada kitsch, eram uns pielmenye que são oficialmente os melhores guioza que já comemos na vida e uns blinis de sonho, mais kvass feito em casa.

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