



Como o Kremlin é menor que o Hermitage, e afinal de contas já tínhamos gasto um dia sem marcar nenhum campo na listinha oficial de lugares turísticos - ok, marcando meio - fomos lá ao velho castelo dos príncipes da Moscóvia. De novo pegando o fantástico, suntuoso, e escalafobético metrô bolo de noiva. Que além de bolo de noiva é ridiculamente frequente. Assim, mais que a linha 3 de SP, que já tem, teoricamente, o menor intervalo possível. Eles conseguem isso, além de porque são russos e impossível é detalhe, com o trem ficando tipo meio segundo com a porta aberta, e a porta se fecha com uma porrada que, se encontrar a mão dum empata-porta, esmaga todos os ossinhos. Saindo do metrô, passamos de novo na frente do Museu Histórico (que definitivamente é um dos meus top 3 de "que merda que não fomos na viagem" - Thuin), e descemos aos jardins de Alexandre, criados pelo czar epônimo no que antigamente era o fosso da fortaleza. Os jardins devem ser belíssimos, mas como são jardins à francesa, com grandes parterres cheios de flores, e estávamos em março, na Rússia, boa parte deles eram agulhas de pinheiro, lona, ou lona plástica. Mesmo assim, tinha hordas de gente passeando por eles. Na entrada do jardim, um guardinha solitário vela pelo túmulo do soldado desconhecido; na placa a explicação de que é um sujeito que morreu no km 50 da avenida Leningrado, a mesma que passa perto da casa de nossos anfitriões, e o ponto mais próximo de Moscou a que os nazis chegaram. No meio do jardim, um edifício grandito de vidro preto é a bilheteria do Kremlim; lá dentro, confirmamos que sim, eles cobram praticamente um bilhete (caro) por pedaço lá dentro. E tem hora marcada. Enfim, compramos pra logo em seguida, passamos rapidamente pela lojinha do museu (bem rapidamente, mochileiro não pode se abarrotar de bugiganga), subimos pra fora do jardim, e entramos pela antiga ponte de sentinelas no Kremlin. Não sem um medinho dos guardas. Entrando, tínhamos que esperar um tempo até nossa hora de ver as exposições começar, e ficamos ali, passeando prum lado e pro outro e olhando a cidade de cima (sim, o Kremlin fica bem acima do nível do resto da cidade), incluindo ao longe as sete irmãs, os bolos de noiva do Stalin.Achamos que a que vimos do Kremlin era a Universidade, mas podemos estar enganados.

As coleções do arsenal são basicamente coleções reais, o que quer dizer que têm mais pompa que beleza, e mais beleza que variedade. Roupas, roupas, e mais roupas. Armas, armas, e mais armas. A inescapável sala de carruagens. Oro, muito oro. Aliás, tanto ouro que no meio de todo ele passamos, certamente, na frente do ovo de fabergé da transsiberiana e nem reparamos. E no final desse ouro todo, o fundo de diamantes estatal da Rússia. O fundo só se entra com visita guiada mesmo, e é basicamente alojado dentro duma caixa forte, com a luz fraca que é pros diamantes faiscarem bastante nas vistas. As jóias da coroa de dona Catarina são particularmente impressionantes; o diamante Orlov faísca que nem uma montanha de luz mesmo. Junto com a gente, meia dúzia de outros turistas avulsos, e uma trupe de adolescentes de colégio com a professora. Saindo do fundo de diamantes, fomos passear pelas catedrais do Kremlin. Aqui, confesso que não ter maiores conhecimentos de arte moscovita atrapalhou um pouco a apreciação da coisa: as igrejas meio que se misturam na memória, de tantas que são. Todas muito chapadas, muito altas e estreitas, com a luz entrando quase que por cima. Dá pra entender a estória do Vladimir da "semelhança do céu," imaginando um serviço com muito incenso e cantos solenes naqueles espaços. Sob o antigo palácio dos patriarcas da igreja, algo pelo menos diferente: uma pequena mostra arqueológica, com alguns dos objetos escavados do próprio Kremlin (os mais importantes estão ali perto, no museu histórico nacional). Depois das igrejas, o antigo palácio dos sovietes é bem mais bonito do que as descrições nos levavam a crer, com uma mistura modernista de austeridade e luxo, e imensos planos de mármore (com altos relevos rasos, quase imperceptíveis na luz do fim de tarde) e vidro, e só uns apliques dourados. Não vimos os jardins de dentro da cidadela porque já estava fechando, e os guardas foram cercando os turistas (sem nunca escorraçar, só impedindo de voltar ou chegar àquele ponto já com guardas) até nos pôr pra fora e deixar sêo Putin fazer as machices lá dele em paz.
Saindo do Kremlin, passeamos um pouco pelas ruas, com direito a entrar, assim por acaso, no museu de arquitetura. Não entramos pra ver a exposição, mas paramos dois minutos na lojinha, em que o pôster ocupando meia parede inteira era do olho curitibano de Oscar Niemeyer... de lá, voltamos pra avenida Leningrado, e fomos à cata de um supermercado, pra fazer comida brasileira pros nossos anfitriões. Bem, era esse o plano: a falta total e completa de ingredientes (e tô incluindo coisas exóticas como feijão e ervas frescas) nos supermercados nos fez mudar o plano pra galinha à provençal. Pelo menos deu pra fazer o brigadeiro, comido com larica.
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