Saturday, April 16, 2016

16.4.2015 Ise 13 a 19C, Altitude 56m



Acordamos cedo para pegar o trem, já que tínhamos descoberto que, se pegássemos o trem cedo, poderíamos pegar um lex, expresso interurbano confortável, no lugar do metrôzão de três horas e meia. Agradecemos o simpático povo do albergue e fomos lá correndo porque estávamos atrasados, olha essa ruazinha aqui que vira deve chegar mais rápido, pera ela continua virando, aimeucacete, tem uma passarela sobre os trilhos, PORRA estamos do outro lado, aimeudeus o trem foi embora. Ah well. Andamos um pouco mais e chegamos à estação da Outra, a ferrovia não-JR que faz a rota Ise-Quioto direta. Muito mais chique que a estação Ise da JR. E o trem direto de Quioto é um lex. Devíamos ter pago e usado ao invés de ir por Nagóia. A estação é ligada por outra passarela à da JR, e chegando nesta, fizemos um pow-wow com o mestre da estação, que resultou em pegarmos trem pra Taki para pegar o próximo lex, dali a quatro horas ao invés de naquela hora exata. Pensamos em passear um pouco por Ise, mas resolvemos que, se Taki era a junção ferroviária, devia ser maior, e ter algo de interessante, mesmo não sendo mencionada no guia. Pegamos uma cerveja "shinto beer" prum amigo que é xintoísta e tarado por cerveja, porque achamos que seria um presente ideal, e fomos lá.

Então. Sobre essa teoria... Taki pode ser uma junção ferroviária, mas tudo que conseguimos ver na cidade foi um mercadinho (com boa parte das prateleiras ocupadas por diferentes bebidas alcóolicas, o que nunca é bom sinal) e um bingo. A estação tem três plataformas abertas ligadas por uma passarela, e uma casinhola minúscula pro chefe de estação. Que mesmo assim, é a JR, está devidamente paramentado, de luvas brancas bem limpas, e faz sinal pros trens que chegam tão ereto e certinho quanto o mestre da estação Shinjuku. Enfim, depois de algum tempo de TÉDIO PROFUNDO (pelo menos serviu pra Thuin deitar no chão da plataforma) e um pouco de fome (nada no mercadinho era apetitoso), pegamos uma litorina, em que o próprio maquinista conferia seu ingresso, no nosso caso o JR Pass, pra Matsusaka, a próxima vila com algo mais do que um mercadinho e um bingo, e na qual poderíamos pegar o lex. (Com só duas plataformas de trem na estação, mas uma estrutura muito melhor.)

Matsusaka é, aparentemente, famosa pela carne e pelas facas, o que não deixa de ser uma combinação que faz sentido. Comemos um café da manhã numa padaria "francesa" na própria estação. A cidade não tem nada de notável que dê pra ver numa perambulação pela rua da estação; passamos por uma loja de facas realmente de dar água na boca, e por um vendedor de bentôs de carne porque, afinal, se é esse o negócio... passamos, também, pelo correio, de onde mandamos cartões postais pra sobrinhos e afilhado e pegamos dinheiro (em Ise, o banco do brasil tinha engasgado de novo).

O lex nos apanhou, enfim, e chegamos, com algumas horas de atraso, em Nagóia. Largamos as mochilas grandes no armário, transferindo roupa pra um par de dias pra pequena, e comemos um tonkatsu de lamber os beiços nas entranhas da estação (a estação, sede da JR-Central, pode ser enorme e luxuosa, mas as áreas de alimentação são corredores subterrâneos meio baixos e apertados), com uma cerveja hipster local igualmente de lamber os beiços. Pegamos o lex para Takayama, que é genial porque é um "wide-view" (assim, em inglês mesmo), um lex em que as janelas ocupam quase toda a lateral do trem, e com parede de vidro atrás do maquinista. Particularmente interessante quando você está subindo morro, como era o nosso caso. Já umas horas depois abrimos os bentôs, mas apesar de estarem gostosos (carne moída sequinha com legumes, e tirinhas de carne marinada com arroz), como tínhamos comido o tonkatsu não estávamos com fome, e guardamos um deles. Depois se provou uma má decisão...

Em Takayama, a estação era feita para parecer uma casa antiga; a cidade leva a sério seu título de "pequena Quioto," com muitos templos e árvores. Passeando um pouco enquanto esperávamos o horário do ônibus, entramos num templo com um gingko enorme. O ônibus era rodoviário, então a poltrona inclinava um pouco, mas em compensação as ruas de Takayama, não sei se pelo efeito do degelo, não eram lá muito lisas. Muitos gemidos de Thuin; foi quase um alívio chegar na estrada. Quase porque é no meio das montanhas, então não são poucas as curvas. Enfim, depois de um tanto de dor, chegamos. E valeu a pena: a 2500m de altura, a neve ainda não tinha derretido toda , e montanhas ainda mais altas se erguiam por todo lado, com a aldeia de casas de sapê lindas em volta do riacho que corria forte e brumoso com as águas do começo do degelo.

O cruzamento desse riacho, por uma ponte de concreto sem colunas que parece uma ponte pênsil dentro de si mesma e balança quando se anda, não foi lá a coisa mais fácil do mundo para Mari. (Thuin adorou) Chegando à pousada, que era numa das enormes casas de sapê, fomos recebidos pela dona, que nos explicou as regras e avisou que o jantar seria servido depois de tempo pra todo mundo tomar banho. Nos apressamos em ser os primeiros, porque todo mundo se revezaria na mesma banheira, e por mais que a regra seja se esfregar bastante antes de ir pra banheira... depois do banho, vestimos os quimonos de algodão e capa de seda pro frio que estavam providos, e fomos dar um passeio. Mari desistiu da idumentária e foi pra dentro pegar casaco e bota; Thuin disse que tinha direito a seu dia de princesa. A aldeia é bem pouco iluminada à noite, só o bastante para não ser medieval. Na frente da pousada havia um templo budista, com santuário xintô anexo; em volta, outras casas iguais a ela e umas menores, mais modernas, todas fechadas. A ponte estava praticamente imersa nas trevas, mas Thuin quis passar nela para ver e sentir o rio à noite; Mari só deixou se ele tirasse os tamancos de mandeira. A sensação era de pisar em musgo; no dia seguinte deu pra ver que era concreto nu, e a sensação, só do pé congelando. Chegamos a tempo da janta, que por mais que fosse deliciosa nos decepcionou um pouco: queríamos um ensopado das montanhas, e ao invés disso a impressão era de uma tentativa de fazer uma comida kaiseki, como a da estalagem de Miyajima. Mézanfá. Deliciosa, era. Depois da janta, a ordem é pular pros quartos, onde um aquecedorzinho elétrico e muitos cobertores nos aguardavam (e luz de teto desligada - tinha um abajurzinho pros insones).

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