Sacado o dinheiro, fomos no Tosho-gu, o tal patrimônio da humanidade. É o templo erguido junto com a tumba de Tokugawa Yeiasu, unificador do Japão e fundador da última dinastia de xóguns. E realmente merece cada última letra do título de patrimônio cultural da humanidade. A arquitetura é chinesa, mais que japonesa, com uma talha de madeira riquíssima e telhados elaborados, só que ao invés daqueles descampados enormes de palácio chinês, os templos de Nikko ficam no meio duma "cidade" em que as ruas são marcadas por criptomérias enormes; a sensação é uma mistura de imperial e sereno, de opulência e simplicidade. Seria mais interessante ainda se não fosse a dor nas costas que impediu Thuin de subir até o túmulo propriamente dito, ao contrário das velhinhas que subiam alegres. Aqui também o cavalo do deus (no caso, ao invés da deusa do sol, o deus tutelar é o próprio espírito de Tokugawa Ieyasu) tinha sua cocheira; na plaquinha diz que o cavalo é presente australiano, além de deixar povo tranquilizado de que não, ele não passa o dia inteiro preso ali. O presente parece ser parte de uma tradição, porque também há um sino presente dos reis da Coréia e uma lanterna de ferro presente da Companhia das Índias Holandesa - lembrando que, afinal, o orixá do lugar era o fundador da dinastia que governava o país até meados do século XIX. Na cocheira também fica a famosa estátua dos três macaquinhos, não ouço não vejo não falo. O conjunto todo está sendo restaurado, assim como o castelo de Nijô, o que também foi interessante de ver; tínhamos todas as três fases (antes, durante, e depois) da restauração ali.
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| Sim, isso é um sashimi de porco |
Saindo do Tosho-Gu, fomos em frente para buscar a única outra atração de Nikko que dava pra quem não pode pegar carro visitar - o resto são atrações naturais às quais só se chega pegando estrada. Era o jardim botânico alpino da universidade de Tóquio. Andando pela estrada-rua principal, no caminho descobrimos que tinha uma outra, que o guia não mencionava, um palacete art nouveau que pertenceu a um príncipe herdeiro da era Taishô. Mas seguimos antes pro jardim botânico, parando pra comer numa loja de conveniência (estávamos contando os centavos pra não ficar com menos dinheiro do que o necessário para pagar o riyokan, pra se o banco desse problema de novo). O jardim é modesto, bem mais modesto do que a associação com a Universidade de Tóquio faria crer. Uma casinha na entrada serve de centro de visitantes, te dá de graça o mapinha básico e vende uns mapinhas e guias mais tchuns - bem bonitinhos, mas estávamos em modo mão de vaca total, então não compramos nada. Andando pelo jardim, com plantas de frio e montanha, ele estava um pouco abandonado, mas isso o tornava até mais bonito. Parte dele acompanha o mesmo rio que passa pelo riyokan, e do outro lado podíamos ver uma série de budas à margem do rio; foi o único momento em que vimos viv'alma enquanto andávamos por ali, um par de turistas ou romeiros olhando os budas. Um belíssimo lago de plantas aquáticas diversas (todas misturadas, apesar das plaquinhas darem a entender que antes cada uma ficava no seu canto) era quase sombreado por um par de magnólias com as flores já começando a murchar, muito cheirosas... ao contrário do guia, a gente recomenda muito o jardim botânico.
De volta ao riyokan, mais banho e o jantar comme il faut. Quase tão bom quanto o de Miyajima, kaiseki, com além das muitas comidas já preparadas um fogareirozinho para fazermos nosso próprio churrasquinho de frutos do mar, bolinha de surimi de peixe com castanha, cogumelo eringui, e abóbora.




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