Saturday, April 23, 2016

23.4.2015 Tóquio, 15 a 21C, Altitude 6m

No primeiro dia acordado em Tóquio, resolvemos ir para o museu da cidade, cujo nome é "Museu Edo-Tóquio"; Edo era o nome pelo qual a cidade era conhecida durante os tempos Tokugawa, antes da revolução que fez com que o imperador passasse a mandar no país - e se mudasse para Tóquio. Pegamos um trem (depois de perguntar a um policial, que tinha em sua cabine um dos ficharioszões cheios de informações aleatórias obrigatórios, onde pegávamos o trem; a alternativa seria pegar o trem na estação ao lado do albergue e andar até a próxima, pra depois voltar em outra linha). A estação em que descemos fica ao lado, além do museu, do principal estádio de sumô, e no bairro em volta há também dúzias de academias de sumõ; o resultado é que a estação, que é relativamente grande porque costumava ser terminal da extinta Ferrovia Sobu, é abarrotada de cartazes e troféus, quase uma antessala do estádio. Descendo da estação, o efeito "antessala do estádio" continua, com dúzias de camelôs vendendo suvenires - inclusive muitos cachecóis, não apenas de sumô mas também de beisebol e futebol.

Tanto o estádio quanto o museu têm uma arquitetura evocando (quaaaase imitando, mas diferente o bastante pra não ser brega) estruturas arcaicas; um tablado coberto de luta de sumô de aldeia e um celeiro pré-histórico sobre palafitas. Só que em escala imensa; o museu tem mais de 300m de comprimento. Chega-se na entrada dele dando a volta (se você vem da estação), e a escala é curiosa pelo contraste com a rua suburbana, de casinhas e prédios baixos se alternando. Você sobe primeiro para uma praça aberta sobre uma entablatura (dentro dela fica a parte administrativa, reserva técnica, exposições temporárias, e restaurante), pra comprar os ingressos (e um micro sanduíche de café da manhã) e subir um monte de escadas rolantes até o corpo do "celeiro."

O museu começa relativamente modesto, numa salinha com pequenos artefatos; é truque. Logo depois, você está no mezanino de um galpão imenso, com direito a dois prédios em tamanho natural, um representando Edo - um teatro de Kabuki - e um representando Tóquio - um jornal do começo do século XX; entre eles, ligando dois mezaninos, está uma reprodução da Nihonbashi, a antiga ponte de madeira sobre o rio Sumida, que até hoje é o marco zero do Japão. Além desses prédios de maior impacto, o museu tem uma exposição variada, com desde obras de arte (por acaso quando fomos lá tinha a série completa das 100 vistas de Edo, de Hiroshige) a maquetes de diversos tipos de construção, desde uma casa de carregador de balde de cocô até as moradas palaciais dos grandes barões (tozama daimyo) e o antigo castelo de Chiyoda; a brincadeiras tipo "tente você levantar a carga que um carregador de água levava" (pesado pra burro) ou "pedale numa bicicleta do século XIX" (povo na era vitoriana era equilibrista de circo, certeza). Uma nota mais sombria era dada por exposições sobre o grande terremoto do Kantô ou os bombardeios americanos; num painel, você pode apertar botões, cada um correspondente a um bombardeio específico, e ir apagando o mapa de Tóquio de 1941. E a loja de suvenires tinha muita coisa que era simplesmente brinquedo de antigamente; infelizmente, acabamos não comprando na teoria de que era perto e poderíamos voltar depois. Quando estávamos quase saindo, uma repórter perguntou se queríamos dar entrevista, mas declinamos do convite.

Resolvemos ir para a exposição temporária, paga à parte, também, e era sobre a batalha de Sekigahara, que estabeleceu Tokugawa Ieyasu como mestre do Japão. Muitas armaduras, espadas, e adereços diversos dos grandes barões, muitos documentos históricos (vários dos quais contavam uma história de sinceridade, amizade desinteressada, e amor fraterno de dar inveja a Game of Thrones), e alguns painéis mostrando a batalha, seus antecedentes (a unificação do Japão pelos dois antecessores de Ieyasu) e consequências (o estabelecimento do governo central em Edo). Na saída da exposição, uma lojinha de suvenires maior que a do museu propriamente dito, mas também bem mais cara, coisa de 50 reais por um caderninho com o brasão de algum daimiyo, ou 500 por uma reprodução de 20cm de altura das armas e armadura de Ieyasu.

A essa altura, Mari já estava faminta, e fomos em direção ao museu de arte contemporânea (pegando o metrô para andar uma estação) buscando o tempo todo lugar pra comer, mas o tempo todo dizíamos "esse não, deve ter algum mais legal," então acabamos chegando ao museu, já perto da hora do fechamento, ainda com fome. O museu, com um parque ao lado, é grande - maior ainda que o de Kanazawa, e beeem maior que o de Osaca ou o Garage, sem chegar a ser do tamanho da Nova Tretyakov. Menos bonito que os outros também, tem cara de terem pedido pro arquiteto sobretudo "imponência." Como estava um dia friozinho e cinza, dia de semana sem quase ninguém no pátio externo, talvez essa impressão fosse mais forte do que num fim de semana de sol. Lembrava a ONU de alguma maneira que não sei explicar. Dentro, exposições que iam de fantásticas ("O Tempo dos Outros," com diversos artistas explorando o tema sugerido pelo título, incluindo uma exposição em que relógios dispostos ao redor da sala faziam a contagem de mortes por diversas causas ao redor da Ásia) ao "mano, se isso é arte vou mandar minhas fotos pro museu," mais a (bastante representativa) coleção permanente.  Saindo do museu, vimos no mapa que daria pra ir por outra estação de metrô de volta pro albergue, atravessando o parque ao invés de pela rua, e fomos por lá. O parque tinha bem cara de parque de subúrbio, fora o detalhe de uma imensa ponte estaiada (de pedestre mesmo) cruzando um canal e uma avenida; do alto da ponte, tinha-se uma bela vista da cidade, no por do sol que demorava para acabar de sumir.

Comemos algo para enganar a fome numa barraquinha de rua ao lado do parque, e fomos para o albergue, passando antes por um mercado para comprar mantimentos (legumes são lindos e frescos, carne é caríssima) pra fazer um macarrão no albergue. No caminho, nos demos conta de que teríamos de fazer baldeação da Tokyo Subway pra Toei subway (as duas dependem do governo de Tóquio), e em Tóquio o metrô custa 7R$ e não tem baldeação grátis entre as redes, então resolvemos muquiranamente dar a volta maior pra ao invés disso chegar na JR e usar o JR Pass.

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