Friday, April 1, 2016

1.4.2015 Khabarovsk Temperatura -6 a 4C, Altitude 76m





O nascer do sol nos brindou com uma visão estranhíssima: algumas árvores que não eram bétulas nem pinheiros. Umas macieiras-bravas e carvalhos, bem mirrados ambos; umas árvores que deviam ser faias, também mirradas e retorcidas. Mas meu deus do céu, não ser bétula ou pinheiro já era novidade, já estávamos saindo da taiga e chegando numa floresta fria normal.

Chegamos, enfim, depois de ler sabe-se-lá quantas enciclopédias e logo depois de cruzar uma ponte interminável sobre o Rio do Dragão Negro, em Khabarovsk. Com fome. (Thuin tinha se recusado a comer a última refeição do inominável vagão-restaurante e passado os últimos tempos à base de purê de batata com um último pedacinho do salame de alce.) Comemos na lanchonete da estação e (já que seriam uns 4km em linha reta por um bulevar até nosso mini-hotel) fomos atrás dum táxi. Que era oficial, pintado, mas oferecia cobrar, fora do taxímetro, mais ou menos o que os piratas haviam cobrado pelo percurso Irkutsk-Listvyanka. Então, né. Não. Pegamos o bonde mesmo; não era lá muito novo, pulava um tico, mas deu pra sobreviver (o sistema de pagamento era o mesmo dos ônibus; entra e espera o cobrador falar contigo; esse tinha até maquininha de bilhete único portátil). O bulevar pelo qual descia o bonde é lindo, se estende da praça da estação até o parque que margeia o Amur (aka Rio do Dragão Negro. Melhor nome), e chamar de "bulevar" é meio eufemismo; entre as pistas de carros (duas faixas em cada sentido) tem mais de 100m de parque, com árvores, fontes, estátuas, gramados, brinquedos, e flo-ok, talvez tenha flores, mas quando percorremos tinha um monte de neve e lama. Saltamos do bonde e fomos procurar a rua do hotel; descobrimos que era outro bulevar idêntico; o mini-hotel - é um motel mesmo, com janelão espelhado pra ninguém ver e decoração em vermelho- tinha, portanto, vista pro parque mesmo o quarto sendo no térreo. Não tamos reclamando!  Depois de descansar, usar tens, etc, fomos passear um pouco; a cidade toda aparentemente é cheia de árvores e parques, e muita, muita neve. E ladeiras, que brincamos que era pra começar a lembrar de São Paulo. E mesmo nas ladeiras, metros de neve, em primeiro de abril.

Além do bulevar em que estávamos, subimos uma ladeira curta para a rua principal da cidade, em que se alternavam prédios neorussos e construtivistas. Comemos uma pizza horrorosa (mas recomendada pelo guia), compramos uma calça jeans (Thuin tinha perdido a sua no trem), passamos numa livraria, tomamos um chá num café hipster fofinho, demos uma olhada no começo do parque que margeia o rio, Mari comprou um picolé com uma embalagem com cara de 1900 e vovó virgem, que era absurdamente delicioso, tomamos uma cerveja Oxota (momento Beavis e Butthead). Voltamos ao hotel, descansamos um pouco, e partimos para um supermercado para comprar a janta. No supermercado tinha uma bandejinha de caviar - de salmão e de um primo lá do esturjão - baratíssima; a gente deve ter feito muita cara de espanto, porque a gerente correu atrás da gente pra explicar que não era caviar de esturjão de verdade. Deu vontade de aprender o russo pra "dona, no meu país isso aqui já custa um carro."


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