Sunday, April 17, 2016

17.4.2015 Shirakawa-Go, -4 a 6C,

Acordamos cedo, pela dupla obrigação de ter que viajar relativamente cedo e do café da manhã. Neste, a dona da pousada resolveu que tinha que explicar que era pra descascar o ovo cozido. E achou que não tínhamos entendido. E os chineses do lado foram explicar também. Gente, tá. Ovo. Sei. Comem disso na minha terra.

A aldeia era tão desbundante de dia claro quanto à tardinha, mas por motivos de furto não tem foto (mais quando chegarmos a Tóquio). As construções mais recentes (mas ainda todas em madeira, quando muito um reboco) eram, realmente, tudo lujinha. A ponte de pedestres, vazia na madrugada, cheíssima de gente que tinha acordado muito mais cedo que a gente e ido de ônibus pra fazer bate-volta desde Takayama, ou até mais cedo ainda e desde Nagóia. Compramos os bilhetes do ônibus de volta, sem fila já que tava todo mundo chegando, e sem problema já que íamos embora no meio da tarde e o povo do bate-volta só voltaria ao anoitecer.

Do lado de lá do rio, um conjunto de casas não é nem pousada nem lujinha, mas museu - da própria Shirakawa-Go, e da vida e do trabalho de antigamente nas montanhas do Chubu; não sei se todo mundo acharia interessante, mas nós achamos. Numa delas, que pertenceu a um cacique, pode-se inclusive subir para o telhado, que é metade do volume da casa e onde eram secos os fios de seda, que era a principal indústria da área. Noutra, cartazes e um vídeo explicavam sobre como é (ainda hoje) o mutirão para se consertar o imenso telhado de sapê, e de quebra deixam claro por que não rola manter casas dessas como casa privada hoje em dia; são umas 100 pessoas pra consertar um telhado, e as famílias não têm mais 20, 40 membros adultos que nem antigamente. E também explicavam por que não tem uma mísera lixeira, nem em restaurantes, pela cidade: sem tanta gente pra fazer manutenção dos telhados, você não quer que vida selvagem seja atraída.

O passeio pelo "museu" também serviu para darmos uma última despedida à neve; como na Rússia, alto assim nos alpes japoneses abril ainda é degelo mais que primavera. Nas montanhas em volta, faias ainda secas também faziam lembrar a Rússia. Enfim, com dor no coração nos aprontamos para ir embora, demos o bentô de Matsusaka para a dona da pousada para jogar no lixo por nós, e pegamos o ônibus. Em Takayama, já que tínhamos esquecido a bolsa dos remédios, nos dividimos: Thuin foi direto para Kanazawa, para ir direto pro onsen do hotel, e Mari foi para Nagóia pegar a bolsa. Mari inda teve que correr: o horário do trem era casado com o do ônibus vindo de Shirakawa-Go. Enquanto esperava o trem, Thuin inda comprou um tubo de carne em conserva achando que era bentô, ou seja, nenhum dos dois almoçou. Thuin inda fez um lanche saltando do trem em Toyama para pegar o próximo Shinkansen (recém-aberto, em 14 de março) até Kanazawa. Ter JR pass era lindo.

Em Kanazawa a estação é comum (se mais espaçosa que a média) por dentro, mas a entrada, que também é um terminal de ônibus, é linda, lembrando uma espécie de Torii hi-tech, de aço e vidro; o correto seria dizer que o terminal de ônibus urbano da estação é lindo, mais do que a estação em si. No hotel, Thuin tentou pagar o hotel e teve a desagradável surpresa de que o cartão estava bloqueado. Tenta o débito. Também bloqueado. OK. Sai e tenta sacar dinheiro num atm. Bloqueado. Procura orelhão para ligar pro Banco do Brasil. Não tem orelhão. Pede carregador emprestado, envergonhado, pra moça do hotel, e liga meio inclinado com o celular conectado na tomada da faxineira. "Senhor, seu cartão não foi bloqueado." Tá, mas então por que não consigo passar ele. "Não sabemos. Tente novamente." E assim, e com muitos "aguarde horas ouvindo a musiquinha dos smurfs ou pour Elise," enquanto as costas iam ficando pior e pior, por mais umas três horas e meia, até que finalmente alguém (com sotaque potiguar, acho) descobriu o problema: o banco impõe ao uso do cartão de débito, quando fora do país, o limite do crédito, mesmo que haja mais dinheiro na conta. "Se o senhor pagar agora, estará resolvido até as 10h da noite." No Brasil. 10 da manhã. Albergues de sem teto em Kanazawa, procurar. "Se o senhor pagar na agência, vira na hora." A agência. Que fica em outra cidade e já fechou. Mais uma meia hora e finalmente a informação: com esse outro número de telefone (a conta, eventualmente, foi de mil reais) dá pra pagar e ser creditado na hora, ao contrário da internet ou do telefone comum. Bem, demora uma meia hora. Quando finalmente a conta foi paga, Mari já tinha voltado de Nagóia, e o tempo no Onsen melhorando da dor tinha virado tempo torto numa cadeira de café. (E sem saber se ia dar pra pagar o café e o muffin).

Enfim. Direto pro onsen, ou melhor, pro banho (tecnicamente falando, "onsen" é só quando a água é direto da fonte térmica; neste hotel era água do mar aquecida - pra gente, melhor ainda), ficar fazendo choque térmico até andar direito de novo. Depois dumas horas disso, saímos pra procurar um lugar pra comer. Como não havia exatamente condições de andar muito, tinha que ser no quarteirão do hotel (o próprio serviço de quarto era uns sanduíches de pão de miga sobrefaturados). Acabamos entrando num lugar de espetinho que, se bem longe da delícia da barraquinha de Fukuoka, era bastante bom (pra não dizer que só comemos espetinho, tinha uma boa salada de acelga e repolho roxo, com refill grátish), e que era meio restaurante meio bar, com chopp gelado e um grupo de adolescentes de cara vermelha numa salinha lateral. O que doeu um pouco foi que a decoração era baseada nas referências do remoto período showá, onde moravam nossas mamães... que durou até 90.


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