Depois dum lauto e lindo café da manhã kaiseki e uma despedida com saudade no coração do onsen, nos arrumamos e partimos pra Tóquio (não deu problema na hora de pagar com o cartão, então ficamos com uma dinheirama em cash), munidos com uns pacotes duma bala de goma, pasta de feijão, e castanha portuguesa, que era uma delícia; nossa única lembrança de Nikko, mais uns pirulitos dos três macaquinhos pra dar de presente. Depois de quase dois meses viajando e dizendo "não vamos comprar nada porque vamos ter que carregar depois," o hábito tinha se calcificado, mesmo sabendo que só teria mais uma viagem antes da volta a São Paulo. Enquanto esperávamos o trem, que só passa uma vez por hora, comentávamos como realmente Nikko se parece com uma Itaipava da vida, com a vista das serras ao longe. Ainda tentamos ver na estação da Outra companhia de estradas de ferro se o lex deles direto pra Tóquio serviria, mas o dito-cujo só sai de Nikko à tardinha, é feito pra turistas que passam o dia. Então fomos lá descer de ladinho mesmo. A descida é bonita, passa boa parte do tempo no meio do mato, e a proximidade com o mato num trem de bitola estreita e uma só via é muito maior do que num carro. De dar pra tocar nos pinheiros e bambus mesmo. Também reparamos o que não tínhamos reparado na ida, que embaixo do nome de cada estação no caminho (são umas 5) tem a altitude dela. Enfim, chegamos a Utsunomiya, cheia de cartazes da festa do morango e com uns painéis feitos por crianças de escola anotando aonde tinham visto cerejeiras e ameixeiras em flor, e pegamos o shinkansen para Tóquio, última cidade da viagem e maior metrópole do mundo.
De volta à estação Tóquio, malas na mão, fomos procurar nosso trem para o albergue. E...bem... imagine um labirinto. Chape esse labirinto de um bilhão de pessoas. Adicione a sinalização "no information like too much information" da JR.... depois de uma boa meia hora andando pra cima e pra baixo, enfim achamos, bem pra baixo (são as plataformas mais profundas da estação) a linha que procurávamos, e tivemos uma grata surpresa: alguns trens da JR em Tóquio, trens comuns tipo metrô, tem um "carro verde," que nem trens interurbanos. No caso, ele é o equivalente a um ônibus executivo, bem mais simples do que os carros verdes ou até os normais de um lex, mas só de não ficar no aperto do metrô (e em Tóquio esse aperto é tão absurdo quanto se vê no youtube) já tava valendo, e o JR pass nos deixaria usá-los até o antepenúltimo dia. Chegamos na nossa estação e no albergue, que tinha uma temática ninja - querendo dizer muitos shuriken de plástico pra tudo que é canto, e os recados que todo albergue tem com brincadeirinhas. Coisas como "um NINJA nunca deixa louça suja na pia!" O quarto tinha cara de limpo, mas um pouco de cheiro de mofo, e era minúsculo - um beliche em que Thuin mal se virava, espaço ao lado dele de uns 40cm, e uma mesinha carteira de escola. E uma luminária cuja cordinha de apagar era um shuriken. Saímos de lá à procura dum lugar para comer, e acabamos parando no restaurante nepalês de uma tiazinha, muito bom, com mesinhas com toalhas de plástico, bons pães à moda indiana e curries, e o chopp mais barato que vimos no Japão. (Kirin, infelizmente, e a Kirin ter comprado a Schincariol faz todo o sentido, mas era barato e gelado.) Voltamos pro hostel e fomos cochilar um pouco; quando Thuin acordou, descobriu o porque do cheiro de mofo: a janela do quarto dava pra parede lateral do prédio em frente, e a família do apartamento abaixo pelo visto gostava de fritura; o quarto deve ficar com a janela fechada enquanto não tem ninguém hospedado nele o tempo todo, pra não entrar a gordura. Enfim, pra gente era só fechar às seis da tarde e abrir às nove, ou horário que fosse, já que já não fazia mais frio; no dia seguinte o cheiro tinha sumido inteiramente.

Descansados e banhados (não tinha banho público luxuoso, mas os banheiros cápsula imitavam decentemente uma sauna, e a água fria era bem gelada), já era noite, e fomos conhecer a Guinza. Saltamos na própria estação Tóquio, e de lá fomos a pé, nos perdendo só umas duas ou três vezes até chegar na área realmente epoustouflante da Guinza. Que provavelmente consome metade da energia elétrica do mundo, de tanto luminoso. Prédios jóias, prédios propaganda, prédios as duas coisas juntas. Muitas e muitas lojas de departamentos; entramos em uma das mais tradicionais pra olhar o setor de comida do subsolo. Chiquérrimo, mas nos impressionou menos como apetitosidade do que o da loja da estação de Fukuoka, até porque tinha mais coisa importada e menos coisa japonesa. Saindo de lá, comemos num fast-food de tempurá, e estávamos entre os últimos clientes; aquele neon todo dorme cedo...


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