Sunday, April 3, 2016

3.4.2015 Khabarovsk -2 a 6C, Altitude 76m



Acordamos cedo e arrumamos as malas, prontos para o último trem (bem, penúltimo contando o do aeroporto) na Rússia. Moça do motel chamou o táxi pirata, com carro japonês adaptado para usar gás natural, nos ajeitamos, e colamos na estação com, sei lá, segundos para correr pro trem. Mas conseguimos, nos ajeitamos (era primeira classe de novo, dessa vez porque não tinha sobrado nenhum na segunda), e piuíii. Não, nenhuma locomotiva russa faz piuíi. Sim, elas são todas elétricas. Foi licença poética, ok.

A paisagem entre Khabarovsk e Vladivostok larga o Amur mas continua bastante mais dramática que os primeiros milhares de quilômetros. São montanhas altas na distância e uma infinidade de rios e lagos próximos da linha de trem, tudo coberto por uma vegetação bastante variada. Segundo tínhamos lido, no outono essa vegetação tem a maior variedade de cores outonais de qualquer lugar da Terra, mas como estávamos indo no degelo, a maioria era morta mesmo, com apenas um tipo de carvalho tendo umas folhas marrons. A comida, novamente (era o mesmo trem, pra nosso azar) estava horrorosa, por mais que se pretendesse chique (tinha até vinho). O peixe, por exemplo, eram duas variedades diferentes de peixe, à milanesa - as duas horrorosas, cozidas demais e pingando óleo. Anfã. Sobrevive-se. Depois de algumas horas, as estações rurais foram sendo trocadas por estações suburbanas e militares, e apareceu à nossa direita o Pacífico, ainda com gelo lhe grudando nas margens, e láaaa ao fundo as montanhas da Manchúria, na China.




Vladivostok. -4 a 0C, Altitude 2m

O sol tinha acabado de se por (sobre o Pacífico. É uma península.) quando, enfim, chegamos. Mari praticamente pulou pra fora do trem de emoção, procurando a plaquinha de quilômetro plataforma acima e abaixo. Enfim, descobrimos porque não a achávamos: ao invés de uma plaquinha, tem um monumento enorme. E são, desde Moscou, exatos 9288km. Somados aos 650km entre S. Petersburgo e Moscou e aos 381 entre Helsinki e Piter, dá 10.319km. Um tico de chão. Saindo da plataforma, não tinha rota direta pra rua, então lá fomos nós pro raio X. Um guarda, quando chegamos na câmara do raio X, perguntou de onde éramos, respondemos "do Brasil," e ele nos mandou aguardar. Já pensamos que "fudeu." Seríamos presos, sabe-se lá por quê. Afinal, não fazia tanto tempo que Vladivostok era proibida para estrangeiros. O ônibus. Tínhamos pego um ônibus em Píter e saído antes do cobrador aparecer. Socorrro!... o guarda chega, com um sorriso de orelha a orelha e um isqueiro comemorativo pra dar de presente, dizendo que adorava o Brasil.

Saindo da estação, toda neorussa quase neoromânica, podíamos olhar, do outro lado da rua, prédios e, abaixo de nós, a própria estação de trens e a de barcas; as estações estão ao pé de um penhasco, sobre o qual se ergue a cidade. E ainda teríamos mais um morrinho para andar...  E nos deparamos com uma rua onde não existia o número, mas havia um morro sem luz, de terra e com alguns entulhos nos cantos. Acho que foram uns cinco minutos para convencer a Mari a subir ai. No fim do morro tinha um prédio, que parecia abandonado e que mesmo assim entramos, a esquerda era uma mistura entre um cortiço e uma casa abandonada e a direita tinha uma porta. Esta com os dizeres do nosso albergue. Thuin demorou um bom tempo convencendo a Mari a pelo menos dar uma olhada; convencida, eis que a porta se abre e era limpo, com um tema náutico, levado a um exagero inacreditável no banheiro imitando banheiro de barco. Depois de descansar um pouco, fomos à cata de algo pra comer, e descobrimos que havia, sim, um motivo para conhecer direito Vladivostok, que merecia muito mais do que o único dia que tínhamos deixado. Sim, porque comemos numa stolovaya, uma cantina baratinha, e o salmão...

Senhoras e senhores, cavalheiros e damas distintos do júri, entitades variadas, o salmão. O salmão da saladinha de salmão com creme de leite e endro da cantina, que custou menos de 1,5R$. Era melhor do que quase qualquer comida que já tivéssemos comido na vida, certamente léguas melhor do que qualquer salmão. Os frutos do mar em Vladivostok não são outro nível, são outro universo.

Na saída da cantina, demos uma passeada rápida, mas Mari tinha ficado já assustada com o caminho para o hotel, e havia grupos de jovens (sem jovenas) passeando pela rua (era sexta), então resolvemos voltar logo de uma vez.

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